Paraty além da história, entre o mar e a Mata Atlântica

Apenas dois itens são imprescindíveis para uma ótima viagem em Paraty: tempo bom e um hotel confortável bem localizado. Pelo menos, acreditava eu até o mês passado, quando estivemos em família na cidade no litoral sul do Rio de Janeiro. No segundo quesito, gabaritamos. Já o clima… A meteorologia nos presenteou com chuvas constantes durante os quatro dias do roteiro.

Bem instalados numa pousada localizada num casarão do centro histórico, decidimos enfrentar a cara feia da chuva e aproveitar o melhor possível. Nossa programação incluía muita natureza, no mar e na mata, para vivenciar uma Paraty além da história. Navegamos pela Costa Verde – o nome daquele pedaço traduz perfeitamente a cor da água – e nos aventuramos pela Mata Atlântica para provar desde cachaça até PANCs, as plantas alimentícias não convencionais.

PELO MAR

Começamos pelo mar. Passeios de escuna ou de lancha privativa exploram a Costa Verde, com paradas para banho e almoço entre praias e ilhas. Dá para negociar os passeios direto com os barqueiros, no píer, pela manhã. Nos feriados, contudo, a concorrência e os preços são maiores.

Com saídas regulares tanto para o litoral sul quanto para o norte, a Paraty Tours é uma das empresas que fazem passeios pelo litoral. Oferece barco com bar (consumo pago à parte) e aluguel de máscara e snorkel. Há ainda a possibilidade de fechar com a empresa uma embarcação privativa da Lanchas Malou, para decidir o trajeto e onde deseja cair na água.

Na lista de roteiros possíveis está visitar o Saco do Mamanguá. A comunidade local produz os barcos e lemes de madeira coloridos que enfeitam pousadas e atrações de Paraty. O Atelier da Terra, no centro histórico, vende embarcações de tudo o que é jeito: em ímãs, em miniatura, de pendurar na parede. O mexedor de caipirinha é o item mais barato: R$ 4.

PELA TERRA

Em terra firme, os roteiros que levam para visitar cachoeiras e alambiques não são apenas para que curte uma branquinha – é comum ver famílias inteiras no passeio. Seguindo em direção à Mata Atlântica, fomos de carro à Cachoeira da Pedra Branca, de fácil acesso por caminhada, após um certo sacolejo na estrada de terra. Depois, estivemos no Alambique Pedra Branca, onde vimos como se dá o processo de produção, da moagem da cana de açúcar a tonéis de cobre e barris de madeira.

Na degustação, aprende-se que, após botar o destilado na boca, a respiração não deve ser feita mais pelo nariz, para evitar aquela queimação na garganta que incomoda muita gente não acostumada à cachaça. Além das versões puras, experimente os licores elaborados com a bebida. Entre eles, o mais famoso é o Gabriela, um clássico de Paraty, que leva cravo e canela e remete à obra de Jorge Amado, filmada na cidade.

Ali perto, na Estrada da Pedra Branca, a Fazenda Bananal vale ser incluída no roteiro para almoçar no restaurante, ao lado do casarão do século 17. De conceito do campo à mesa, o lugar trabalha com ingredientes orgânicos e prepara uma das melhores refeições de Paraty.

Uma ideia saborosa é pedir a porção de croquetes de peixe (R$ 32) com o sazonal Ceci (R$ 35), drinque disponível entre setembro e dezembro e preparado com tangerina, grãos de cacau fresco e cachaça. O leitão desmanchando (R$ 105) cumpre o que promete, como comprovou a ponta do garfo; acompanha ragu de lentilhas, couve frita, farofa de banana e cubinhos crocantes de aipim.

Existem diversas atividades organizadas na parte dedicada à visitação dentro da área total de 1,8 km². Uma delas é a Passarinhar, caminhada para observar aves. Fizemos um tour com o especialista Jorge Ferreira para degustar as PANCs encontradas pelo caminho. A paixão dele por plantas e cogumelos é tanta que você termina achando a experiência fascinante. Há visitas educativas pela horta orgânica em forma de mandala e para ver cabras e galinhas. Quem busca mais conhecimento sobre sustentabilidade pode marcar a trilha guiada pela área onde 32 mil árvores foram plantadas.

PELO CENTRO

É claro que, de alguma forma, você também vai incluir o centro histórico em sua visita. Percorrer as ruas de pedra pode ser um momento agradável entre passeios fora da cidade ou no fim do dia, em busca de um bom lugar para jantar ou tomar um sorvete. Lembre-se de usar calçados confortáveis, como sandálias rasteiras e tênis – nos dias chuvosos, fique atento a solados escorregadios.

Dessa forma, ficar hospedado no centrinho tem suas vantagens. A Pousada do Sandi, por exemplo, fica instalada num conjunto de casarões restaurados. O hotel faz jus ao nome da associação que integra, a Roteiros de Charme, com decoração repleta de obras de arte e objetos relacionados ao cinema – o fundador, Alexandre Adamiu, foi presidente da Paris Filmes. Com horário marcado e servido à mesa por causa da pandemia, o café da manhã variado sempre contemplava uma receita especial por dia (prove a queijadinha, se chegar à sua mesa), uma opção de bolo vegano, pão de queijo quentinho e pudim de chia (bem bom também).

Nos outros casarões do complexo estão a sorveteria Miracolo e o bar de coquetéis Apothekario, com assinatura de Alê D’Agostino e execução da bartender Victoria Draganov. À base de cumaru, espumante e maracujá, o Passion Tonic (R$ 36) é o drinque mais pedido. Para experimentar pasta artesanal com sabores do mar, vá ao italiano Pippo, restaurante da Pousada do Sandi. No lado direito do cardápio estão pedidas como o Ravioli dello Chef, com tinta de lula na massa e recheio de camarão e vieira, a R$ 129,38.

Muitos artistas instalaram seu ateliês no centro histórico. Dá para comprar de peças de artesanato a pingentes feitos a partir de moedas estrangeiras antigas. Não se distraía apenas com os itens à venda. Repare nos detalhes arquitetônicos das construções: os desenhos, influência da maçonaria; e as cores, surgidas inicialmente com restos de tintas que pintavam os barcos de pescadores.

No fim, entre o mar e a mata, entre ruas de pedras e casarões, Paraty comprova que dá até para prescindir de dias de sol. Ainda que os pés fiquem encharcados, ali não tem tempo ruim.

Agência Estado

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