Nova biografia destrincha genialidade e fraquezas de Roger Federer

Afirmar que uma biografia humaniza seu protagonista pode parecer um clichê. Mas, quando se trata de livros sobre tenistas, a tarefa se tornou uma virtude nos últimos anos. Com frequência, obras do tipo se assemelham a entediantes almanaques, com descrições de jogos e listas intermináveis de resultados. É exatamente o oposto disso que se pode encontrar em “Federer, o Homem que Mudou o Esporte”, escrito pelo jornalista americano Christopher Clarey e publicado no Brasil pela editora Intrínseca.

O experiente repórter do jornal The New York Times traz um relato completo sobre a vida e personalidade do tenista suíço, construídas a partir de mais de 80 entrevistas. Somente com Federer foram “23 ou 24” ao longo de 20 anos, segundo afirmou o autor ao Estadão. Na prática, o leitor tem acesso a informações e observações colhidas por Clarey durante duas décadas. Ele estava lá na estreia do jovem suíço em um torneio de Grand Slam, em Roland Garros, em 1999, e também viu de perto o 20º troféu conquistado por Federer na série dos torneios mais importantes do mundo, no Aberto da Austrália, há três anos.

Ao longo de 420 páginas, o americano faz o que nenhum outro biógrafo de Federer fez ao destrinchar sua personalidade, sua técnica (sem jamais ser enfadonho), suas conquistas ao mesmo tempo em que revela suas fraquezas. Isso só foi possível ao amplo acesso que teve ao próprio tenista, a ex-treinadores do suíço, ex-jogadores, como Andy Roddick e Marat Safin, e aos grandes rivais Rafael Nadal e Novak Djokovic.

“Federer, o Homem que Mudou o Esporte” revela um gênio vulnerável. Alguém que virou lenda e obteve recordes incríveis no circuito, porém sofreu duras derrotas e vem assistindo aos rivais superarem suas marcas gradualmente nos últimos anos. “Ele foi um grande campeão, mas também um grande perdedor. Perdeu muito. As maiores partidas em que esteve foram derrotas, com exceção da vitória sobre Nadal na final do Aberto da Austrália de 2017. E isso é algo muito extraordinário para um cara com essa imagem e reputação”, disse Clarey ao Estadão.

Para o biógrafo, as derrotas para o espanhol e para Djokovic contribuíram para sua imagem de tenista falível, o que ajudou em sua popularidade. “O motivo que o tornou tão querido do público é porque ele se tornou vulnerável desde cedo. Ele perdeu para o Nadal em Miami pela primeira vez em 2004. Foi muito cedo, ele estava começando a dominar o circuito”, lembrou o americano. Arrisco uma hipótese: teria Federer se tornado um Michael Schumacher, infalível e pouco popular, se não houvesse seus dois maiores rivais? “Concordo totalmente com essa ideia”, respondeu o americano.

Clarey argumenta que a personalidade expansiva do suíço, sua sensibilidade (e fama de chorão) e a conexão com os fãs foram elementos importantes para ele se tornar um fenômeno global. O status de celebridade, não planejado pelo tenista, foi uma construção coletiva, de acordo com a nova biografia.

O experiente jornalista, com 15 Olimpíadas no currículo, aponta diversos fatores que permitiram ao suíço se tornar tão genial dentro e fora das quadras. O apoio da família e o fato de nascer e passar a vida toda na Suíça, perto dos grandes torneios do circuito, foram complementados por pessoas determinantes em sua trajetória, como o australiano Peter Carter, seu primeiro técnico. “Se não fosse Peter, Roger poderia ter se tornado jogador de futebol”, diz Clarey.

Federer ajudou a “mudar o jogo”, como diz o título da biografia em português, não apenas com sua técnica acima da média. Na obra, o americano mostra como também foram fundamentais a escolha do preparador físico Pierre Paganini, o namoro e futuro casamento com a ex-tenista Mirka, os demais treinadores e a decisão de assumir ele mesmo a gestão da sua carreira, algo inédito até então no circuito.

O suíço ainda desbravou novos territórios ao passar longe das controvérsias e dos escândalos ao longo de 20 anos de carreira. Para Clarey, o tenista tem o que chamou de “inteligência social e emocional” acima da média. “Ele vê o problema antes de acontecer. E encontra um jeito de resolver antes de se tornar um grande problema. Não é por acaso que ele atravessou 20 anos sem qualquer escândalo. É porque é muito inteligente e tem empatia.”

A imagem limpa aproximou o suíço de grandes patrocinadores. Federer está perto de se tornar o primeiro tenista da história a acumular patrimônio de US$ 1 bilhão em sua carreira. E, para o biógrafo, essa habilidade de lidar com apoiadores, imprensa e fãs é o que torna o suíço o maior da história no “pacote completo”.

A opinião contrasta com avaliação de outros especialistas, que apontam ora Nadal ora Djokovic como os maiores da história. Os três detêm, empatados, o recorde de títulos de Grand Slam – 20 -, que é a maior referência para definir o maior de todos. No entanto, o sérvio vem superando outras marcas importantes nos últimos anos, esquentando ainda mais a discussão.

“Quando falamos de grandiosidade de forma geral, eu diria que é preciso levar em consideração outras coisas além dos resultados, como o que o tenista trouxe para o jogo, a conexão que criou com os fãs, o prazer que ele dá ao público quando vê suas partidas, o jeito como ele se comporta e a imagem que dá ao tênis. Então, diria que Roger é o melhor neste aspecto, no pacote todo.”

 

Agência Estado

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